
Esta obra é um manifesto edipiano em que Kafka esquizofrénico encontra algo ou alguém em quem depositar toda a sua fúria:" diante de ti perdi toda a confiança em mim; em contrapartida, recebi uma culpabilidade infinita ". O ódio ao progenitor - na verdade, mais admiração secreta e profunda inveja - é o escape essencial para Kafka-homem viver consigo próprio. De outro modo, não projectando para fora de si a culpa pelos males que o assolam e que nunca o deixaram ter a paz de espírito que, contudo, porventura, não o teria transformado no escritor que foi, Kafka morreria acto contínuo à primeva percepção de consciência. O tom acre, azedo, ressabiado, não torna a leitura uma tarefa agradável, assim reforçando o modo como esta específica relação paterno-filial se desenrolaria. O estilo está, pois, ao serviço da mensagem.
É um livro desconcertante.
Termino com uma deliciosa referência de Franz Kafka ao Direito – curso que acabaria por tirar sem qualquer pingo de gosto :
"Portanto, estudei Direito. Isso significou que durante alguns meses antes dos exames, afectando consideravelmente os nervos, alimentei-me intelectualmente de letras de serradura que, além disso, tinham sido previamente mastigadas para mim por mil bocas."
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