domingo, 31 de agosto de 2008

Por vezes, tal como desta vez, o regresso é feito recordando aquele pedaço de cena, que permanece num quarto da nossa mente...


Sou feito de sentimentos, emoções, de luz, de amor.
Sou a voz que ouves quando pedes um conselho,
Sou quem te toma nos braços quando necessitas,
talvez, agora, enquanto lês essas palavras, eu esteja aí, ao teu lado,
a olhar dentro dos teus olhos como quem quisesse enxergar
o que teu coração demonstra,
mais tarde... à noite, quando te deitas...
sou quem nina seus sonhos sentado ao teu lado
à espera que adormeças... dizendo que tudo vai ficar bem.

Se ao menos me pudesses perceber,
se notasses o que sinto ao teu lado...
basta quereres,
basta por alguns instantes esquecer teus problemas,
fechar os olhos, como se nada mais existisse,
deixe-me chegar perto de ti... abraçar-te...
sente o meu coração bater ao compasso do teu...
sente que não estás sozinha, nunca estiveste!
Apenas esqueceste de olhar mais com os olhos do teu coração...
então abre os olhos... vê os meus... conhece-me.

Quem sou eu pra pedir para que me notes?
Apenas um anjo que se deixa levar pelas suas emoções,
que desconhece o que é errado... se entrega, se rende...
vagando por estrelas, nuvens, pelo céu escuro da noite...
olhando pelos outros, despertando amores, anseios,
paz nas almas que fraquejam,
sentado ali de cima a olhar-te...
observando-te... deixando, às vezes, uma lágrima cair
e se fazer uma gota de sereno que te toca os lábios...
lágrima essa por não poder nada mais que apenas te ver...
sentir sem poder tocar.

Manifestando através de pequenas coisas,
como um sorriso sincero nos lábios de alguém que tu não conheces,
o toque de uma criança a fazer-te carinho,
palavras escritas nas páginas de um livro que te chamam atenção,
palavras que mexem e emocionam o coração ditas do nada,
como um sussurro no teu ouvido...
e se um dia uma brisa leve e suave tocar no teu rosto,
não tenhas medo,
é apenas minha saudade que te beija em silêncio.

Os humanos têm um hábito muito peculiar
de julgar seus semelhantes pela sua aparência,
de rotular pessoas, as quais nunca viram...
apenas pelo modo como ela se apresenta...
porém, consigo ver dentro de cada um o que realmente são...
e me assusto algumas vezes em como podem os humanos
deixar-se levarem por embalagens, por invólucros...
deixam de terem muitas vezes ao seu lado verdadeiros tesouros,
amizade sincera, lealdade, companheirismo...
simplesmente por não terem gostado do rosto do indivíduo.
Imagine uma roseira cheia de espinhos,
ninguém acreditaria que dela pudesse brotar uma rosa tão bela,
sensível e delicada.

É do interior que nascem as flores.
Pude conhecer seu interior...
me deparei com uma flor linda...
e com muitas qualidades.
Se preserve assim...
muitas vezes é melhor sermos o que realmente somos...
a viver como as pessoas acham que deveríamos ser...
Não existe ninguém melhor, ou pior que ninguém...
apenas diferentes umas das outras e essas diferenças
são que mostram quem realmente você é.
Fico assim... dizendo as coisas que me aparecem dentro do peito,
contando o que se passa em mim, como se estivesse desabafando...
pois Deus nos fez para cuidar dos outros...
e quem cuidará de nós?

Continuarei aqui...
meio que escondido, ao teu lado, olhando-te, sentindo-te...
esperando que um dia deixes teu coração "olhar" e me ver...
daí, enfim, poderia eu mostrar o quanto tu és especial para mim.
Um poema deixado no ar,
palavras implorando para viver como uma estrela que o dia não vê
e que espera a noite chegar para poder mostrar-se,
a canção de amor que sai da tua boca...
são as coisas que sempre sussurro ao teu coração,
tento traduzir emoções que nunca senti antes,
algo realmente novo pra mim,
paz, atração, paixão, amor,
algo especial...
sincero...
verdadeiro.


"A Carta de Seth", de Cidade dos Anjos

sábado, 9 de agosto de 2008

Pause !

Bom, está na hora de retirar uns dias de descanso verdadeiro. Tenho de repousar e ganhar inspiração para encher novamente isto, de coisas no mínimo agradáveis. Todo o que aspira a poeta tem de conquistar a inspiração. Tirar um tempo para ler, recolher informações e delícias para partilhar aqui...

Vou mas volto, mas até lá, deixo-vos:

Um pedaço daquele que foi considerado o melhor poema do mundo por um jornal francês:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

(...)

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

(...)

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

(...)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.



A Tabacaria, de Álvaro Campos


Uma daquelas músicas que ouvimos e não esquecemos... um clássico, sobretudo:






São coisas destas e momentos como estes, que fazem deste espaço exactamente o que ele é... um cantinho de suspiros...=)

Até Breve*

Sussurro I




Sussurro II

terça-feira, 5 de agosto de 2008

É eterno o meu gostar. Aqui ou além.


Escolhi viver sem ti, apesar de te querer.
Escolhi fugir, mas espero-te aqui.
Escolhi não ter nada e querer ter tudo.

Viver-te seria demais para mim.
Não o mereço.
Tocar-te seria ferir-te.
Sentir-te era obrigar à tua desistência.
Se os sonhos comandam a vida,
Eu não te posso comandar.
Eu e eles, seres alternativos.

Escolherás os teus sonhos.
Outra coisa não te deixaria decidir.
Pelo menos,
Não têm a minha incapacidade de escolher…

Escolhi viver no deserto, à espera que diluísses a minha sede.
Escolhi não ser teu, e não ser de ninguém.
Escolhi não ter nada e querer ter tudo…

No fundo, escolhi ser indeciso quando não o sou.