quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Na mesa do Santo Ofício...


Tu lhes dirás meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.

Ary dos Santos

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Costume.

Todos os dias fazemos inúmeras coisas como todos os dias. Involuntariamente, muitas das vezes, é certo, mas fazemos. De que coisas falo eu? É simples. Reparem nos vossos movimentos, no vosso pensar e executar, no agir... irão certamente encontrar inúmeras coisas que fazem sempre da mesma maneira... como por exemplo, o vestir, sempre as calças primeiro e depois a camisa, ou ao contrario; o lavar os dentes, primeiro movimento é sempre para a direita ou para esquerda ou para os dentes da frente; o pentear, sempre em funçao de um gosto, um hábito, um costume; o calçar, primeiro o pé direito, só depois o esquerdo, ou ao contrário; a forma como o comer se encontra dividido no prato, ao centro virado para nós a carne, só depois por trás e ao lado as batatas, o arroz, a salada, o que for; a forma de nos olharmos ao espelho, mais perto se encontramos defeitos, mais longe se simplesmente queremos ver se temos ou não estilo; a maneira como nos sentamos tendo em conta a posição das outras pessoas; a maneira como nos deitamos, primeiro de barriga para baixo, de lado ou para cima, depende sempre dos gostos; a maneira como coçamos o olho, como tomamos banho, como lavamos a cabeça, as mãos... movimentos simples, rápidos, práticos e,sobretudo, iguais, sempre iguais!

Se pensarem sobre os vários exemplos, decerto encontram formas de viver estandardizadas, porque? Simplemente porque é costume. Fomos assim habituados, foi assim que descobrimos como saciar as nossas necessidades. Sim. Este costume não será mais do que uma prática reiterada (leia-se repetida,contínua) involuntária, muita das vezes, com convicção apenas e só de necessidade... "as coisas são assim porque têm de ser assim, e não de outro modo!"... Toda a nossa vida é composta por movimentos e acções que fazemos sempre do mesmo modo...ontem, hoje e amanhã... Sim porque apesar de ter consciência amanhã voltarei a calçar primeiro o pé direito, escovar os dentes rapido e para o lado direito, irei beijar as pessoas da maneira que para mim têm importância... e nem preciso de pensar sobre isso... é um costume mecanizado...

Enfim... basta ter paciência para pensar...

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

"Linhas Opostamente completas"

Dois...
Apenas dois.
Dois seres...
Dois objetos patéticos.
Cursos paralelos
Frente a frente...
...Sempre...
...A se olharem...
Pensar talvez:
“Paralelos que se encontram no infinito...”
No entanto sós por enquanto.
Eternamente dois apenas.

Pablo Neruda

(Que grande divagação isto me deu...
Porque como disse um doutor meu: "Sem um outro tu, o eu torna-se desconhecido!")

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Manifestação de Lágrimas

Lá fora cai a chuva, sem perdoar.
Forte, irritante, viva.
Cá dentro caem lágrimas,
Macias, tristes, secas.

É um paralelismo comparável sem comparação.
É uma água vinda de fontes diferentes.
É uma explicação de razões inexplicáveis.
O movimento dos carros a limpar a chuva das estradas,
É o mesmo que a minha mão faz,
Limpando as minhas lágrimas.

Mas porque choro eu?
Talvez pelas mesmas razões que choras tu.
Afinal porque choras tu?
Eu sei muito bem, não digas!

Todo este choro é a consequência do passado.
Nesse mesmo não o quisemos, hoje somos obrigados.
A culpa está nas lembranças do passado,
A culpa está no não chorar quando devemos.
Com tudo isso apenas sofremos.

Porque o pior choro é aquele que não se manifesta…

(E pronto(s) mais um...)

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Sugestão

«Quando estou a escrever-te, sinto o teu hálito, e imagino que sentes o meu quando lês o que escrevo. Também se passa o mesmo contigo? Estas cartas são agora parte de nós, parte da nossa história, uma recordação
eterna do que fizemos com a nossa vida. Agradeço-te por me teres ajudado a sobreviver este ano mas, ainda mais importante, agradeço-te, antecipadamente, por todos os anos futuros. »


O Sorriso das Estrelas, de Nicholas Sparks


(Livro brilhante, fantástico, puro... na linha de sparks. Poderia dizer que é uma simbiose d'Alquimia do Amor e das Palavras que Nunca Te Direi... sim posso afirmar isso...)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Like a star

Like A Star - Corinne Bailey Raeer

Quem quiser (e desde já aconselho!!) pode acompanhar a letra, carrega aqui

(Porque simplesmente adoro esta música... onde a melodia não é mais do que um excelente acessório a uma letra fantástica...)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O Amor quando se revela...

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

(Por causa de poemas como este que não me canso de Pessoa...)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Para ser grande sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Ricardo Reis

(Sente-se, compreende-se, respira-se...não se comenta.)

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Gato

Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama,
Invejo a sorte que é tua
Porque nem sorte se chama.

Bom servo das leis fatais

Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.

És feliz porque és assim,

Todo o nada que és é teu.
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.

Fernando Pessoa

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Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner

(Porque hoje é carnaval e eu transpiro dois poemas e tu não!)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Porque há cartas com qualidade...

"25 de Setembro de 1995
Querida Catherine,

Passou-se um mês desde que te escrevi, mas pareceu decorrer muito mais devagar. A vida passa por mim agora como a paisagem do lado de fora da janela de um carro. Respiro e como e durmo como sempre, mas parece não haver qualquer grande objectivo na minha vida que necessite uma participação activa da minha parte. Continuo simplesmente ao sabor da corrente como as mensagens que te escrevo. Não sei para onde vou ou quando lá chegarei.
Nem mesmo o trabalho alivia a dor. Posso estar a mergulhar sozinho ou a ensinar aos outros como fazê-lo, mas quando volto para a loja, parece vazia sem ti. Faço fornecimentos e encomendas como sempre fiz, mas mesmo agora, por vezes olho por cima do ombro sem pensar e chamo por ti. Enquanto te escrevo este bilhete, pergunto a mim mesmo quando, ou se alguma vez, coisas como essas irão alguma vez terminar.
Sem ti nos meus braços, sinto um vazio na alma. Dou por mim à procura do teu rosto no meio das multidões - sei que é impossível, mas não consigo conter-me. A minha procura por ti é uma busca interminável destinada ao fracasso. Tu e eu tínhamos falado sobre o que aconteceria se fossemos separados por força das circunstâncias, mas não consigo manter a promessa que te fiz naquela noite. Desculpa, meu amor, mas não existirá nunca ninguém para te substituir. As palavras que te murmurei eram absurdas, e eu devia ter percebido isso então. Tu - e só tu - tens sido sempre a única coisa que eu desejei, e agora que já cá não estás, não tenho qualquer desejo de encontrar outra. Até que a morte nos separe, sussurrámos na igreja, e eu tenho vindo a acreditar que as palavras permanecerão verdadeiras até finalmente chegar o dia em que eu, também, serei levado deste mundo.

Garrett"

As Palavras que Nunca Te Direi, de Nicholas Sparks

(Porque há livros que as pessoas deviam obrigatoriamente ler, para compreender um pouco o que é o amor...)

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Construção Permanente

"Um velho carpinteiro que construía casas estava à beira da reforma. Informou o patrão que já se sentia cansado e que queria dedicar o resto da sua vida à família, daí a sua pretensão em retirar-se da vida activa. O patrão gostava muito do carpinteiro e, apesar de ficar triste pela partida de um bom funcionário, concordou, mas pediu-lhe que realizasse uma última tarefa. O carpinteiro não gostou muito da ideia mas acabou por aceitar.
Não tendo ficado muito satisfeito, começou a tarefa de construir a última casa da sua carreira. Realizou este último encargo de má vontade, usando materiais de qualidade inferior e com acabamentos bastante imperfeitos. Quando deu por terminado o trabalho foi ter com o seu patrão. Este, emocionado, tirou uma chave do bolso e disse:
- Esta é a sua casa, é o meu presente para si , por todos estes anos de trabalho!
O carpinteiro ficou muito surpreendido. Se soubesse que a casa era para si teria feito um trabalho muito melhor e de maior qualidade, teria feito a melhor casa da sua vida.

Acontece o mesmo connosco. Construímos a nossa vida, um dia de cada vez e muitas vezes fazendo muito menos do que o que está ao nosso alcance. Depois, ficamos surpreendidos porque temos que viver na casa que fomos construindo, a nossa vida. Se fosse possível voltar atrás e mudar as coisas teríamos feito tudo diferente, mas não é possível. Nós somos como o carpinteiro que martela e prega tábuas com que levanta paredes. Como alguém disse, “a vida é um projecto que nós próprios construímos”. As atitudes de hoje são a construção da casa onde vamos morar amanhã. Devemos construí-la com sabedoria…"


(Porque nunca irei esquecer quando nos deram este texto, em filosofia, apenas para comentar... não vale a pena dizer mais nada, até a menos inteligente das pessoas... o sente!)

sábado, 17 de fevereiro de 2007

True Love?

"What is love really if it only affects, one aspect of life?
That’s like a musician who only accepts, his own musical type.
That’s like a preacher who only respects sunday morning, and not
saturday night.
That’s how a soldier can come to reflect,
that Love is more than a man and a wife."

Soldiers of Jah Army, "True Love"
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Frase do Dia:
"As recordações mais difíceis são as que se referem ao que poderia ter acontecido."

Um lugar no Coração, de Déborah Smith

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Momento..

"Não sei. Falta-me um sentido, um tacto
Para a vida, para o amor, para a glória...
Para que serve qualquer história,
Ou qualquer facto?

Estou só, só como ninguém ainda esteve,
Oco dentro de mim, sem depois nem antes.
Parece que passam sem ver-me os instantes
Mas passam sem que o seu passo seja leve.

Começo o ler, mas cansa-me o que ainda não li.
Quero pensar, mas dói-me o que irei concluir.
O sonho pesa-me antes de o ter. Sentir
É tudo uma coisa como qualquer coisa que já vi.

Não ser nada, ser uma figura de romance,
Sem vida, sem morte material, uma ideia,
Qualquer coisa que nada tornasse útil ou feia,
Uma sombra num chão irreal, um sonho num transe."


Álvaro Campos

(Porque às vezes pergunto (me) se realmente existo só para ocupar espaço.. enfim momentos diferentes e, quem sabe, passageiros...)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Beijo

Um beijo em lábios é que se demora
e tremem no abrir-se a dentes línguas
tão penetrantes quanto línguas podem.
Mais beijo é mais. É boca aberta hiante
para de encher-se ao que se mova nela.
É dentes se apertando delicados.
É língua que na boca se agitando
irá de um corpo inteiro descobrir o gosto
e sobretudo o que se oculta em sombras
e nos recantos em cabelos vive.
É beijo tudo o que de lábios seja
quanto de lábios se deseja.

Jorge de Sena

(Talvez a melhor descrição do que é um beijo, penso. Nunca encontrei melhor...)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...

Florbela Espanca

(Porque hoje é um dia para amar... amem aqueles que podem amar, por eles e por quem nunca amou...)

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Um desabafo...

"If roses are meant to be red
And violets to be blue
Why isn't my heart meant for you..

My hands longing to touch you
But I can barely breathe
Starry eyes that make me melt
Right in front of me...

This music's irresistible
Your voice makes my skin crawl
Innocent and pure
I guess you heard it all before...

You're still a picture in a frame..."

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Estar farto de...

Farto. Quantas vezes não nos sentimos fartos de algo? Fartos da maneira como o sol brilha, da forma como o castelo é construído, ou simplesmente, fartos de respirar sempre da mesma maneira? Há dias assim. Dias em que cada palavra que ouvimos nos soa mal, em que cada felicidade é tristeza, em que cada tocar alegre nos fere. De certeza que já sentiram isso. É como ser infeliz a cada suspiro, a cada sussurro. Muitas vezes estar farto não é mais do que estar frustado, carente, ou até mesmo, só!

Farto
. Quantas vezes não no sentimos feridos? Sim, de certa forma traídos, enganados... Nem que seja por o sol não ter gritado o nosso nome ao acordar, ou a Lua se ter escondido de nós. Estar farto de ser enganado... é duro. A mentira e a omissão quando práticas contínuas nos fazem ficar fartos!

Farto
. Quantas vezes não te perguntaste: "valerá tudo isto a pena?"

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Porque acordei a pensar neste poema...

Com o luar no horizonte
A vida é diferente…
Sinto o cheiro dos teus cabelos…
Sinto-te tão perto de mim…

A lua ilumina o teu rosto…
A luz dá luz a outra luz…
Sabia que eras bonita… fenomenal.
Natural, simples, calma…
É isto que adoro em ti… os teus olhos mostram isso…
Cavo um pouco mais de espaço…
Já sinto o teu respirar… o teu tocar…

Diz-me, a lua não está linda hoje?
“Tal como todos os dias.”-dizes tu…
“Eu sei que hoje está mais bonita, pois
Tem aqui o seu ideal de beleza!”-pensei dizer eu…
Mas a tua linda voz… calou-me.
O medo de estragar o momento com disparates…
Fez-me remeter ao silêncio…

Mas antes disso,
Dá-me o teu ouvido para eu sussurrar um…
“Estou apaixonado por ti.”


(Enfim, são momentos...)

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Já se sentiram relegados para segundo plano?

Toda a gente se sente, por vezes. Quais serão os motivos de uma queda sentimental? Não há apenas uma resposta viável.
Por um lado, podemos dizer que a culpa é dessa pessoa a quem outrora demos tudo e agora não recebemos nada. Por outro, podemos dizer que a culpa é nossa, porque se calhar nunca fomos a melhor companhia, porque involuntariamente também a relegamos para segundo plano, ou porque simplesmente somos importantes para uma coisa, talvez um suporte seja a palavra mais correcta, e para outras coisas não passamos de uma acessório irritante. Há ainda outra via, a de que simplesmente ao longo do tempo as relações tendem a desvalorizar-se...enfim não sei.

Difícil, difícil é se para nós uma pessoa o primeiro e único plano; e para ela, não passarmos de uma motivação para certas coisas apenas... sim amigos, isto sim, é egoísmo!

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Porque há poemas geniais...

Se tu viesses ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

Florbela Espanca

(Há coisas Fantásticas não há?)

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Bocage

O ledo passarinho, que gorjeia
D'alma exprimindo a cândida ternura,
O rio transparente, que murmura,
E por entre pedrinhas serpenteia:

O Sol, que o céu diáfano passeia,
A Lua, que lhe deve a formosura,
O sorriso da aurora alegre e pura,
A rosa, que entre os zéfiros ondeia;

A serena, amorosa Primavera,
O doce autor das glorias que consigo,
A deusa das paixões, e de Cítera:

Quanto digo, meu bem, quanto não digo,
Tudo em tua presença degenera,
Nada se pode comparar contigo.

(sim, porque nada se pode comparar contigo...)

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Soa Bem...

"Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas."

Sophia de Mello Breyner

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Suspiro Musical de Hoje:
"Se há alguém no ar
Responda se eu chamar
Alguém gritou meu nome
Ou eu quis escutar..."
Que se dane os Nós, de Ana Carolina

Absolutamente fantástica esta música...recomendo vivamente a quem sabe ouvir...

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Porque há clássicos que dizem tudo…

It still feels like our first night together
Feels like the first kiss
It's getting better baby
No one can better this
Still holding on
You're still the one
First time our eyes met
Same feeling I get
Only feels much stronger
I wanna love you longer
Do you still turn the fire on?

So if you're feeling lonely, don't
You're the only one I'll ever want
I only want to make it go
So if I love you a little more than I should ...

Please forgive me, I know not what I do
Please forgive me, I can't stop loving you
Don't deny me, this pain I'm going through
Please forgive me, if I need you like I do
Please believe me (Oh believe it), every word I say is true
Please forgive me, I can't stop loving you

Still feels like our best times are together
Feels like the first touch
Still getting closer baby
Can't get closer enough
Still holding on
You're still number one
I remember the smell of your skin
I remember everything
I remember all the moves
I remember you yeah
I remember the nights, you know I still do

(…) Please forgive me, I can't stop loving you..

Bryan Adams

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Deambulando

"(...)Comecei a desaparecer no dia em que os meus olhos se afundaram nos teus. Agora que os teus olhos se fecharam sei que não voltarás a devolver-me os meus.
(...)Ando à caça de palavras resplandecentes, tropeço nelas dentro e fora da vida, interpreto, magoo-me, interpreto outra vez, sujo-me, borro a pintura da cara que não tenho, das caras que fui desenhando sobre a cara que me faltou.(...)"
Fazes-me falta, de Inês Pedrosa

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Diálogo Irónico de Hoje:
"-Grandes 4taste!! Esgotaram o Campo Pequeno ontem!!!
-Fixe! Finalmente outros animais destronaram os touros..."

domingo, 4 de fevereiro de 2007

O Teu Sorriso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul,a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda

Apelo

Porque
não vens agora, que te quero
E adias esta urgência?
Prometes-me o futuro e eu desespero
O futuro é o disfarce da impotência....

Hoje, aqui, já, neste momento,
Ou nunca mais.
A sombra do alento é o desalento
O desejo o limite dos mortais.

Miguel Torga

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Ser feliz por cativar...

"(...)E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho. Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o príncipe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar ?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exactamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo...
Mas a raposa voltou a sua ideia:
- Minha vida é monótona. E por isso eu me aborreço um pouco. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! - disse ela.
- Bem quisera, disse o príncipe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.(...)"
Le Petit Prince, de Saint-Exupéry

Cativar é importante não há dúvida... Sentirmo-nos cativados é uma motivação extra para enfrentar o mundo lá fora...


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Suspiros Irónicos do dia:
"-O Metro vai chegar ao Aeroporto da Portela!! ehehe!!!
-Mas espera lá... o Aeroporto não vai mudar para a OTA?
-Sim vai...
-Então o que se faz com os túneis depois?..
-Sei lá.. Tapa-se com cimento..
-Ou então serve para dar abrigo a refugiados..."