quarta-feira, 31 de março de 2010

The Man from Earth


Sinopse:

Uma festa de despedida ao professor John Oldman - e nunca um apelido descreveu tão bem o seu possuidor - muda inexplicavelmente de intento quando este decide contar aos seus amigos que tem... 14 mil anos. Dando ordem a uma larga e extensa discussão científica entre alguns dos mais conceituados professores da Universidade em que leccionava, todo o tipo de dogmas, desde dos religiosos aos científicos, são colocados sobre suspeita, num ambiente céptico e pirrónico que irá provocar algumas crispações. Baseado na última obra de uma dos mais aclamados escritores de ficção científica, Jerome Bixby, "The Man from Earth" é, mais do que um bom filme, uma grande lição sobre a história do nosso planeta.

Opinião:

Bom, este filme foi, talvez, a maior surpresa cinematográfica que me aconteceu nos últimos anos. Penso que desde o Memento e o The Fountain, nenhum outro filme me tinha deixado sem palavras. Como está na sinopse, o filme baseia-se numa "festa de despedida" a um professor, na sua última tarde na sua casa. O filme passa-se todo nessa casa, na sala. Isto é, o cenário é ingénuo e demasiado vulgar. Mas o ponto forte deste filme não é o cenário, não é a produção, não são os actores (que são razoáveis, a maioria de séries televisivas americanas), mas sim o guião. Acho que nunca vi um filme com um guião tão inteligente e original. Penso que nunca vi um filme onde o ponto principal e mais encantador é o diálogo. É assombroso, arrepiante e de dar a volta à cabeça. O desenrolar da história começa com uma afirmação de uma personagem que diz ter 14 mil anos e a partir daí surge uma sequência de diálogos contínuos refutando e alimentando a ideia. São inúmeras as emoções que se tem durante o filme, porque sentimo-nos perplexos, depois rimos, depois ficamos calados... é um jogo impressionante entre a realidade, a fantasia, o nosso planeta, a sua história e a natureza humana social, religiosa e cultural. É uma obra de arte.

Este filme, como já se percebeu pelo que acabei de dizer, tem um argumento fabuloso e, sobretudo, utópico e aproveitado e lançado por uma maior editora e produção não tenho dúvidas que seria um dos sucessos da história do cinema. Todavia, este filme foi produzido segundo um orçamento extremamente reduzido, sendo um daqueles tesourinhos independentes que ocasionalmente aparecem na indústria do cinema e rapidamente se transformam num culto, conquistando dezenas de milhares de espectadores.

É de referir que este é um filme de 2007 e segundo julgo em Portugal se existe é apenas em formato DVD, uma vez que não estreou nos cinemas (o que também não aconteceu em muitos países). Isto é, tenho sérias dúvidas que seja possível encontrá-lo em Portugal. Mas aqui fica a dica, um dos produtores do filme deu a permissão pública para que qualquer cinéfilo curioso pelo filme poderia e deveria fazer o download da Internet, de forma livre e sem qualquer recalcamento pelo acto em si (aqui está uma inovação...). Por isso, aqui fica o conselho: façam o download, vejam e divulguem, mas só peço um favor: quando divulgarem, não contem o final a essa pessoa porque o proveito que ela tirará do filme vai torná-lo numa experiência única que nunca irá esquecer...


Nota: 9/10 - Excelente


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Agora


Sinopse:

Século IV. No Egipto, sob o poder do Império Romano, violentos confrontos sociais e religiosos invadem as ruas de Alexandria… Presa entre paredes, sem poder sair da lendária livraria da cidade, a brilhante astrónoma, Hypatia, com a ajuda dos seus discípulos, faz tudo para salvar os documentos da sabedoria do Antigo Mundo… Entre os discípulos, encontram-se dois homens que disputam o seu coração: o inteligente e privilegiado Orestes e o jovem Davus, escravo de Hypatia, dividido entre o amor secreto que nutre por ela e a liberdade que poderá ter ao juntar-se à imparável vaga de Cristãos.


Opinião:

Aqui está outro filme sobre o qual eu andava bastante curioso para ver. E, no final, fiquei bastante mais satisfeito que o anterior. Bom, vejamos, primeiro temos de enquadrar este filme. Estamos na Alexandria (no Egipto), século IV depois de Cristo. Temos, por um lado, uma cultura baseada na crença em vários deuses (veja-se como era a religião na Antiguidade: vários deuses dominavam a fé, havendo um deus para cada peça e conceito da vida, baseando-se a explicação de todas as coisas na actuação dos vários deuses) e, por outro lado, temos em ascensão uma cultura cristã baseada na fé e no espiritualismo de um único Deus (note-se: estávamos numa época em que Jesus Cristo tinha sido crucificado à relativamente pouco tempo [cerca de 300 anos], tendo sido propagado os seus ideais pelos discípulos e pelos escritos que se expandiram, crescendo clandestinamente um enorme número de seguidores desta nova fé contra a propagada e defendida pelo ainda vigente Império Romano). Deste modo, não é fácil de adivinhar que existindo na mesma sociedade estas duas culturas, a provocação de uma à outra só podia desencadear numa guerra. E é isso que acontece na primeira parte do filme.

Por detrás de simples aulas de filosofia na Agora da Alexandria, são iniciados confrontos entre a cultura religiosa predominante nos últimos séculos da humanidade e a cultura religiosa que ascende década após década depois da morte do seu fundador. O filme transmite para além de tudo uma mensagem sobre a fundação e conversão das ordens religiosas no início dos tempos. Por detrás das maravilhas da filosofia que desencadeiam o espírito de descoberta por parte da Hypatia (personagem interpretada por Rachel Weisz), entre elas a descoberta sobre se o mundo é redondo ou plano e como se procede a relação com o sol, encontra-se uma guerra religiosa entre o Passado e aquele que hoje é o nosso Presente. Ou seja, o retrato principal do filme, se tivesse que haver uma legenda, seria "A Forma com o Cristianismo se propagou pelo Mundo". É neste ponto que o filme se tornou polémico, uma vez que retrata a propagação dessa nova fé religiosa, através da força, da brutalidade e da violência, pois os cristãos apenas venceram os, por eles designados, "pagãos" porque eram mais fortes, funcionavam como equipa, embutidos na fé religiosa, e com o uso da força expulsaram os que eram contra eles e os que resolveram ficar foram obrigados a se converterem à sua religião.

Assim, temos a tomada de poder pelos cristãos. Numa segunda parte do filme, há novamente outro aspecto que surge como crítica à propaganda conseguida pelos cristãos: após conseguirem expulsar os opositores, converterem os que resolveram ficar e tomarem o poder da cidade, abrem de novo uma guerra dentro de toda a classe cristã, desta vez: cristãos vs judeus. Dentro daqueles que se uniram para expulsar o passado, emerge uma divisão que dá azo a novas guerras, nova violência e nova vontade pela tomada do poder.

Para além de toda esta componente religiosa e histórica o filme desemboca todas estas conexões num triângulo amoroso, mas que sinceramente pouco me interessou, pois o mais forte e frutuoso de toda a história é mesmo o seu pano de fundo e esta guerra religiosa que tão poucas vezes vi retratada em filmes. Por outro lado, é de destacar, como sempre, a actuação de Rachel mais uma vez (tal como em The Fountain).

Para quem vir (ou para quem viu o filme) aqui fica um ponto de reflexão: Qual é a moral da Igreja Cristã para propagar a necessidade de paz e de crucificar as guerras religiosas do nosso tempo, quando a única forma que ela mesma viu como eficaz para chegar ao poder foi envolvendo-se brutalmente com as outras religiões? A favor da Igreja Cristã podemos referir que era a única forma de fazer passar a mensagem e que o Cristianismo só poderia ser divulgado e propagado recorrendo à forma: expulsando os que não queriam e convertendo os que queriam. Ou até dizer que era a prática corrente de todas as religiões. Mas contra a Igreja Cristã temos um elemento muito forte: 300 anos antes já não tinha Jesus Cristo lutado pela sobrevivência da fé cristã? Já não tinha ele sofrido pelos outros? Porque teria de haver mais guerra para que a fé invadisse toda a gente? Seria ele a favor desta propagação da fé pela força? Recorde-se aquela passagem da história de Cristo em que este simplesmente recusa que se mate um borrego para servir de oferenda, porque a morte nunca vale a pena e nunca é um acto feliz. Como podem ser compreendidos os desvios de pensamento e construção de uma fé tão poderosa como a Cristã entre o seu fundador e os que a instituíram eficazmente?
Nota: 7/10 - Bom

segunda-feira, 29 de março de 2010

Austrália

Sinopse:

Austrália é uma aventura épica e romântica, passada no início da segunda guerra mundial. Conta a história de uma aristocrata inglesa, Lady Sarah Ashley, cujo marido, desesperado por arranjar dinheiro, passou o último ano na Austrália, preparando a venda do seu último bem: uma quinta de gado do tamanho de uma pequena cidade, chamada "Faraway Downs". Suspeitando dos seus planos, Sarah viaja num hidroavião para este continente longínquo, com destino à tropical e remota Darwin, para tomar as rédeas do assunto. No entanto, ela é recebida, não pelo marido, mas sim por um rude e mal-educado vaqueiro, apenas conhecido como "O Condutor". Sarah é transformada pelo poder e pela beleza do continente mais antigo do mundo, encontrando romance na paisagem, paixão no condutor de gado e amor maternal em Nullah, uma criança aborígene. Mas, quando a segunda guerra mundial chega também à costa da Austrália, esta família invulgar é separada. Agora Sarah, "O Condutor" e Nullah têm que lutar para se reencontrarem no meio da tragédia e caos dos bombardeamentos japoneses a Darwin.

Opinião:

Já andava há imenso tempo para ver este filme. O estrondoso sucesso que teve nas nossas salas de cinema levou-me a vê-lo, mais até do que por causa da sua sinopse. Hoje, foi dia de realizar esse desejo. Sem rodeios, não achei um filme do outro mundo, capaz de me deixar bloqueado mentalmente dias e semanas. A verdade é que é um filme lento que se desenrola a cada minuto da sua intriga, talvez por isso a sua enorme duração (2 horas e 30 m!). O enredo tem como pano de fundo a guerra (mais uma vez, a guerra.) e como principal objectivo o de sensibilização para a comunhão das culturas existentes como uma só, sem discriminações e afastamentos. Naquela altura na Austrália, propagava-se o racismo por cada canto das pseudo-cidades, onde ainda dominava o "capitalismo branco". No meio disto, aparece uma "cinderela" vinda do reino da nobreza que se insere no insubordinado mundo do povo. Aí conhece o "vaqueiro" e aí se desenrola algo.

Bom, vejamos: em comparação com dezenas de filmes que já vi, este não visa, nem comporta como principal mensagem o amor ou até a luta pelo amor. Temos uma guerra, temos uma luta de classes e lá no meio cruza-se um par um pouco estranho e improvável, que origina um pouco de romance. O que quero dizer é que a principal mensagem deste filme não é o romance (aliás, como pensava ao início), mas sim a cultura e as suas vantagens e inconvenientes. Austrália será mais do que um simples romance, é mais virado para uma lição de vida, onde o romance é uma pincelada especial de todo o quadro.

Perante isto, na minha opinião, achei o argumento pouco estimulante, apesar de o considerar em certa medida bastante original. O que é de exacerbar sem qualquer mácula é o elenco: Nicole Kidman e Hugh Jackman simplesmente fantásticos, aliás, como já vem sendo hábito. Vale a pena ver, mas sem pressas e quando não houver mais nada para se ver.


Nota: 5/10 - Razoável

domingo, 21 de março de 2010

Porque hoje é Dia Mundial da Poesia e, como sempre, é dia de recordar o poema da minha vida...

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 15 de março de 2010

Remember when :


We Laugh


We cry


Together


You and me...