sábado, 2 de janeiro de 2010

Porque encontramos sempre excertos que parecem que foram escritos por nós...

"Sabes, a minha vida tem sido um vazio sem bússola nem azimute. Tenho 21 anos agora, e às vezes sinto como se tivesse duzentos e dez. Não durmo de noite, adormeço de dia. Acordo de boca seca, sinto o mundo andar à roda, que alguém me puxa para o fundo de um poço onde só há escuridão, onde me vou perder e onde me quero perder, assim, sem sentido algum. Gostei tanto de te ter encontrado, não me deixes agora... Não me deixes à beira do poço: ouve, não faças nunca acordar destes dias, destas manhãs geladas na areia, dos teus resmungos de sono e má disposição, porque os teus dedos estão enregelados e não consegues acender o lume do fogão para o primeiro chá do dia. Não me acordes agora, não me fales alto antes de me falares ao ouvido..."

Miguel Sousa Tavares, in No teu deserto

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