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sábado, 2 de janeiro de 2010

Porque encontramos sempre excertos que parecem que foram escritos por nós...

"Sabes, a minha vida tem sido um vazio sem bússola nem azimute. Tenho 21 anos agora, e às vezes sinto como se tivesse duzentos e dez. Não durmo de noite, adormeço de dia. Acordo de boca seca, sinto o mundo andar à roda, que alguém me puxa para o fundo de um poço onde só há escuridão, onde me vou perder e onde me quero perder, assim, sem sentido algum. Gostei tanto de te ter encontrado, não me deixes agora... Não me deixes à beira do poço: ouve, não faças nunca acordar destes dias, destas manhãs geladas na areia, dos teus resmungos de sono e má disposição, porque os teus dedos estão enregelados e não consegues acender o lume do fogão para o primeiro chá do dia. Não me acordes agora, não me fales alto antes de me falares ao ouvido..."

Miguel Sousa Tavares, in No teu deserto

terça-feira, 15 de setembro de 2009

"Carta ao Pai", de Franz Kafka

Carta ao Pai é uma das obra do escritor Franz Kafka. O livro é na verdade a publicação póstuma de uma carta que Kafka escreveu para seu pai e que nunca chegou a ser enviada.Na carta, Kafka discorre sobre sua relação conturbada com o pai, um comerciante judeu, autoritário e de personalidade forte, que sempre impôs aos filhos sua visão de mundo e que despertava em Kafka um conjunto de emoções conflituantes, do ódio pungente a mais profunda admiração. O livro é uma fascinante obra de arte, onde Kafka usa todo o seu talento em destrinçar a alma humana para mergulhar no relacionamento entre pais e filhos.

Esta obra é um manifesto edipiano em que Kafka esquizofrénico encontra algo ou alguém em quem depositar toda a sua fúria:" diante de ti perdi toda a confiança em mim; em contrapartida, recebi uma culpabilidade infinita ". O ódio ao progenitor - na verdade, mais admiração secreta e profunda inveja - é o escape essencial para Kafka-homem viver consigo próprio. De outro modo, não projectando para fora de si a culpa pelos males que o assolam e que nunca o deixaram ter a paz de espírito que, contudo, porventura, não o teria transformado no escritor que foi, Kafka morreria acto contínuo à primeva percepção de consciência. O tom acre, azedo, ressabiado, não torna a leitura uma tarefa agradável, assim reforçando o modo como esta específica relação paterno-filial se desenrolaria. O estilo está, pois, ao serviço da mensagem.

É um livro desconcertante.


Termino com uma deliciosa referência de Franz Kafka ao Direito – curso que acabaria por tirar sem qualquer pingo de gosto :
"Portanto, estudei Direito. Isso significou que durante alguns meses antes dos exames, afectando consideravelmente os nervos, alimentei-me intelectualmente de letras de serradura que, além disso, tinham sido previamente mastigadas para mim por mil bocas."

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"A Minha Mulher", de Anton Tchékov


A Minha Mulher, é um conto do escritor russo Anton Tchekov. Neste pequeno livro, tendo como base uma grave fome que alastra numa aldeia de camponeses na Rússia, Tchekov aborda um casamento fracassado, as suas causas e efeitos, os erros cometidos e as suas angústias.

Pavel Anndreievitch, um alto funcionário público russo reformado, ao saber desta crise perto da zona onde habita, decide tomar a seu cargo a ajuda a esses pobres camponeses famintos, para isso tenta criar uma espécie de comissão entre os ricos e poderosos da área para resolver esse problema. Quando começa a coordenar as acções, descobre que a sua mulher, muito mais nova, bonita e com um carácter forte, mas com quem praticamente não tem relações nenhumas e as que tem são conturbadas, chegando inclusive a viver em partes separadas da casa, já lhe tinha tomado a dianteira reunindo um grupo de pessoas à sua volta para isso, despertando forte ciúme por parte de Pavel.

A partir desta situação Tchekov começa a mostrar-nos o verdadeiro Pavel que é uma pessoa muito egoísta, rígida e com quem é difícil manter relações de amizade e de amor, mas que através da sua mulher e da descoberta do amor que ainda nutre por ela começa a descobrir-se a si próprio e a ter percepção do que a sua vida verdadeiramente é, uma vida de solidão. Perante isto, Pavel comece o medo da solidão que o acompanhou toda a vida e deixa-se cair nesse mundo onde tudo lhe é indiferente e até ele próprio lhe é indiferente.

Este pequeno livro, é uma lição de vida, mostra-nos como uma pessoa mesmo inconscientemente e com as mais nobres intenções, consegue prejudicar a vida dos outros e a sua felicidade.

Por fim, resta-me dizer uma coisa: ao longo do livro não são muitos os acontecimentos, não há grandes reviravoltas nem peripécias extraordinárias; há, sim, a simplicidade das vidas diárias e das relações entre as pessoas. E eu adoro isso.

"Coração Débil", de Fiódor Dostoiévski


Sinopse:


"Em Coração Débil , uma das primeiras obras do autor, acompanhamos a tragédia de Vássia Chumkov, um jovem apaixonado mas de temperamento fraco, a quem a felicidade parece transtornar. Amado por todos os que o rodeiam, Vássia desenvolve sentimentos de culpa por recear não corresponder às expectativas, deixando-se afundar progressivamente numa inquietação e numa tristeza incompreensíveis. Intenso e comovente, este livro revela bem o estilo febril do romancista russo. "

Esta é uma obra pequena em extensão mas grande em conteúdo. Confesso que o facto de ter poucas páginas (não mais de 90) fiquei um pouco de pé atrás sobre a sua qualidade, talvez porque tivesse medo que a pouca extensão não chegasse para me entusiasmar. Contudo, enganei-me e ainda bem. Coração Débil é uma obra virada para o impacto que os acontecimentos exteriores têm no nosso interior. É comovente em todas as linhas onde descreve cada relação existente e cada movimento efectuado. É intenso em todos os diálogos que contém, onde só interessa a interacção e tudo o resto é secundário. É apaixonante e ao mesmo tempo deprimente onde a loucura substitui o amor e a felicidade.Sentimos pena quando acabamos o livro. Apenas e só muita pena.

É um livro muito típico de Dostoiévski, virado para o interior, curto em personagens e essencialmente directo em sentimentos. Leva-nos para uma sociedade russa dos séculos passados, consegue envolver-nos com a maior das paixões... Fiquei encantado.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Onde vivi e Para que vivi", de Henry David Thoreau


Este livro dá-nos acesso a quatro capítulos da obra-prima de Henry David Thoreau, “Walden”, que são: Economia, Onde Vivi e Para que Vivi, Animais de Inverno e Da Conclusão.

Nesta amostra de “Walden”, entramos em contacto com a natureza inerente à obra no seu todo, por meio da exposição de uma filosofia de vida conceptualizada pelo autor e vivenciada sem subterfúgios. Thoreau adverte logo o leitor de que apenas escreverá sobre as suas experiências, sobre a realidade que conhece e que realmente ensaiou. Não lhe interessa narrar factos empreendidos por outrem. Não lhe interessa premissas incertas da vida de quem não é dono. Não lhe interessa nada que não seja a sua vida certa, vivida e absoluta. A base da sua escrita, a sua grande força anímica, é a prática na primeira pessoa, o eu.

Deste modo o livro torna-se num registo diarístico da sua vida em que Henry David Thoreau constrói o seu relato de vida harmoniosa e pacata na margem do Lago Walden, em Concord, Massachusetts.

“A observação da natureza e a observação da natureza humana cruzam-se em várias frentes nesta obra. Se por um lado a natureza oferece ao Homem os recursos necessários à sua sobrevivência, por outro a natureza humana procura suprir as suas carências buscando meios de ultrapassar o que existe para lá da soleira da porta e, sobretudo, dando demasiada atenção aos detalhes da vida alheia, às futilidades que a modernidade apadrinha e que o autor enumera de forma lúcida. "

Para além das suas observações concernentes à dualidade vida prosaica/ vida moderna e defesa do desprendimento material que exerce apaixonadamente, Henry David Thoreau aborda igualmente questões de cariz economicista que são dotadas de uma actualidade incomparável, vejamos:
«Não sou capaz de acreditar que o nosso sistema de produção é o melhor modo através do qual os homens têm acesso à roupa. A condição dos operários está a tornar-se, a cada dia que passa, mais semelhante à dos operários ingleses, o que não é de estranhar, já que, por tudo o que tenho ouvido ou visto, o principal objectivo não é que a humanidade possa apresentar-se bem vestida e de forma honesta, mas sim, inquestionavelmente, que as corporações possam enriquecer. Os homens alcançam, a longo prazo, somente aquilo que ambicionam. Assim sendo, apesar de, a curto prazo, poderem falhar, fariam melhor se almejassem algo num patamar mais elevado.»

Assim, este livro surge-nos recheado de filosofia eterna e infinita, sem deixar de lado a critica à sociedade perante cada comportamento seu.

sábado, 29 de agosto de 2009

"A morte de Ivan Ilitch", de Leon Tolstoi




A Morte de Ivan Ilitch é um romance de Leon Tolstói, publicado pela primeira vez em 1886. Trata-se sobre a morte de Ilitch, a sua vida antes e durante. O livro percorre toda a vida de Ilitch. Inicialmente, começa com o velório, mas depois volta a trás e conta como ele conheceu a sua mulher, as razões e condições do seu casamento até à sua morte. Ivan Ilitch era um juiz muito respeitado que depois de conseguir uma oferta para ocupar funções numa nova cidade, compra a casa dos sonhos da sua mulher e ele próprio se ocupa da decoração. A certa altura, enquanto decorava uma divisão da casa, cai e magoa uma região no rim e, a partir daí, começa a doença que lhe levaria a morte.
A partir daí o livro torna-se um relato do caminho que levaria à morte de Ilitch. A dor, a mágoa, as dificuldades. É um relato impressionante e extremamente tocante capaz de deixar qualquer um a pensar se existe alguém que possa sofrer tanto dor e se algum dia conseguiríamos suportar tanta dor. Deixa-nos sem palavras e surge-nos como uma intensa emoção de desespero em que é imprescindível ter dó de Ilitch. O mais incrível é que perante a falta de apoio da família e todas as mentiras que ela vai criando perante os amigos, apenas se torna agradável para Ilitch estar com o filho de apenas 14 anos e com um criado seu, porque se tornam as únicas pessoas sinceras para ele.

Ivan Ilitch quer morrer, porque se ele morrer será o término da sua dor. Quando está prestes a morrer, ele já sabe, despede-se da família.

Uma obra impressionante de Tolstoi, dizem que é uma das melhores e para mim foi dos livros mais impressionantes que já li, com o relato mais doloroso que algum livro foi capaz de conter… Quanto à escrita, simplesmente genial, nada a dizer a não ser: é impossível parar a meio...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

"Um cântico de Natal", Charles Dickens


Sinopse:
"Ebenezer Scrooge é um homem avarento que não gosta do Natal. Trabalha num escritório em Londres com Bob Cratchit, seu pobre, mas feliz empregado, pai de quatro filhos, com um carinho especial pelo frágil Pequeno Tim, que tem problemas nas pernas.
Numa véspera de Natal Scrooge recebe a visita de seu ex-sócio Jacob Marley, morto havia sete anos naquele mesmo dia. Marley diz que o seu espírito não pode ter paz, já que não foi bom nem generoso em vida, mas que Scrooge tem uma hipótese, e por isso três espíritos o visitariam.

O primeiro espírito é o Espírito dos Natais Passados, que leva Scrooge de volta no tempo e mostra sua adolescência e o início da sua vida adulta, quando Scrooge ainda amava o Natal.

O segundo espírito é o do Natal do Presente. Ele mostra a Scrooge as celebrações do presente, incluindo a humilde comemoração natalina dos Cratchit, onde vê que, apesar de pobre, a família de seu empregado é muito feliz e unida.
O terceiro espírito é o dos Natais Futuros. O espírito não diz nada, mas aponta, e mostra a Scrooge sua morte solitária, sem amigos.

Após a visita dos três espíritos, Scrooge amanhece como um outro homem..."


Não há muito que se possa dizer sobre esta obra, pode-se resumir tudo a 4 ideias-chave: foi o ponto de partida para tantas histórias de natal, influenciou vários desenhos animados e filmes, foi a base de todos os contos de natal, o princípio de tudo; depois, é uma leve leitura, é um verdadeiro conto que se lê em duas horas sem dificuldade, tem uma escrita simples, sem complicações, sendo sobretudo um conto destinado ao povo que verdadeiramente sente e vive o eterno espírito de natal; quanto ao conteúdo, é a mítica história do rico /pobre, do feliz/infeliz, do bom / mal, cujo objectivo é tornar aquele que nenhum valor dá naquele que todo o valor se esforça para dar, é uma história do dar sem receber e do conseguir ser feliz sem nada ter; por fim, é uma história de natal e isso diz tudo sobre a sua qualidade…
Talvez o mais conhecido personagem inspirado nesta obra seja o Tio Patinhas (em inglês: Uncle Scrooge), o avarento da Disney que, junto com Mickey, protagonizou o desenho animado, Mickey's Christmas Carol (1983), baseado em A Christmas Carol, o mais famoso dos contos de Natal de Dickens.

sábado, 22 de agosto de 2009

"O Processo", de Franz Kafka

Sinopse:

"O Processo é um romance escrito pelo escritor checo Franz Kafka, e conta a história de Josef K., personagem que acorda certa manhã, e, sem motivos sabidos, é preso e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não revelado. A figura de Josef K. é o paradigma do perseguido que desconhece as causas reais de sua perseguição, tendo que se deixar levar às elucidações alegóricas e falaciosas advindas de variadas fontes.
O Processo apresenta ao leitor a narrativa carregada de uma atmosfera desorientada e avulsa na qual o personagem Josef K. está imerso. Tal atmosfera deve-se mormente à sequência infindável de surpresas quase surreais, geradas por uma lei maior e inacessível, que está no entanto em perfeita conformidade com os parâmetros reais da sociedade moderna. O absurdo presente em toda obra é o ponto de partida, sem conclusão, da confusão que se desenrola na mente de Josef K., assim como em todos os ambientes reais nos quais ele está inserido, o que dá ao leitor a sensação incomoda própria do estilo da obra kafkaniana.

Nesta obra, o protagonista, atónito, ao ser informado que contra ele havia um processo judicial (ao qual ele jamais terá acesso e fundado numa acusação que ele jamais conhecerá), percorre as vielas e becos da burocracia estatal, cumpre ritos inexplicáveis, comparece a tribunais estapafúrdios, submete-se a ordens desconexas e se vê de tal modo enredado numa situação ilógica, que a narrativa aproxima-se (e muito) da descrição de confusos pesadelos."


O Processo revela-se uma obra complexa, absurda e agressiva. São, desde logo, essas palavras que tornaram a obra num sucesso e das mais badaladas de sempre. É complexa porque desde o início que te vês dentro de uma história onde surgem diversos porquês que não te são respondidos. Absurda porque relata coisas que não têm o mínimo de cabimento possivel. Agressiva porque visa afectar quem lê, da mesma maneira que é dado um berro bem alto para acordar as mentalidades para os erros cometidos pelas pessoas. Confesso que a mim a obra agradou-me especialmente pela curiosidade de saber o porquê do Processo, o que estaria por detrás de tudo, e por isso fiquei um pouco perpelexo quando descobri que o livro não me fornecia essas respostas, mas tinha de ser eu a desenhá-las. Sim, é daqueles livro com um final onde depois de fechares o livro pensas e perguntas: "Que raio, será que me escapou algo? Queres ver que não li algum capítulo?". Tinham-me alertado para o facto de o estilo de Kafka ser pouco vulgar e realmente confirma-se, contudo, gostei bastante da forma como escreve cada cena e é impossivel que nas descrições não o comparemos a Eça de Queirós com um cheirinho a Camilo Castelo Branco e uma pitada de Almeida Garrett, mas isso apenas nas descrições, faltando depois a componente trágica e filosófica muito própria de Kafka. É um livro interessante que faz de tudo para puxar pela nossa cabeça...
É um livro que tem como pano de fundo todas as questões jurídicas, criminais, judiciais e filosóficas. Dá nos a conhecer a mente de um acusado e o tráfico de influências do mais reles poder de autoridade. Embrulha-nos num autêntico pesadelo sem fim, num grito silencioso...


"Sem motivo Josef K. é capturado e interrogado em seu aniversário de 30 anos. As circunstâncias são grotescas, ninguém conhece a lei e a corte permanece anônima. A "culpa", descobre Josef K., torna-se-lhe inerente, sem que ele possa fazer algo contra isso. Obstinadamente, mas sem sucesso, ele tenta lutar contra o crescente absurdo e envolvimento, ignora todo aviso de resistência e é por fim executado um ano depois nos portões da cidade."


Curiosidades:

1- Esta obra tem um final abrupto muito por culpa por ser uma obra incabada. Kafka escreveu os capítulos e nem sequer os numerou, quem o fez foi o seu amigo pessoal, Max Brod (responsável pela publicação de vários textos de Kafka), segundo a ordem de leitura dada por Kafka.

2- Kafka queimou grande parte das suas obras. Destruiu muitas novelas, textos e crónicas. No seu testamento, pedia que Max Brod o fizesse em relação a tudo o resto, mas este recusou-se a fazê-lo e tinha-o dito a Kafka e, por isso, este apressou-se a fazê-lo em relação a aluns textos.

3- Fiquei a saber que existe um filme referente a esta obra que procurarei ver e depois comentar aqui, chama-se: The Trial, de Orson Welles

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"Jogador", Fiódor Dostoiévski


Sinopse:

"Uma das obras mais conhecidas de Dostoiévski, Um jogador é o relato vertiginoso de um homem absorvido por duas paixões: o amor não correspondido por uma jovem e a sedução do ganho fácil nas mesas de roleta.Tendo vivido intensamente, durante certa fase de sua vida, a paixão pelo jogo, Dostoiévski tinha o plano de escrever um livro onde pudesse pôr a nu a psicologia do tipo do jogador profissional. Em 1866, obrigado por uma cláusula contratual a entregar um novo livro a seu editor, sob pena de perder os direitos sobre toda sua obra por nove anos, Dostoiévski retomou aquele projecto e contratou a taquígrafa Ana Grigórievna, que depois se tornaria sua segunda mulher, para, em vinte e poucos dias, produzir esta pequena obra-prima.
Ao criar uma trama de grande densidade e ao mesmo tempo extremamente divertida, na qual todas as relações são pautadas pelo dinheiro, o grande escritor russo conseguiu não apenas realizar seu projecto sobre a psicologia do jogador, mas tecer uma crítica contundente ao capitalismo."


Esta foi a minha primeira aventura em Dostoiévski, surpreendeu-me. O jogador, pelo que pesquisei e me informaram, está um pouco longe de ser a sua melhor obra, contudo é um livro que se lê num suspiro, numa tarde em que não há outra coisa melhor para se fazer e nos apetece sentar, na cadeira, à varanda e fugirmos um pouco do nosso mundo. Em si, a história baseia-se em três pilares: o amor não correspondido, a ganância não escondida e o jogo incontrolável. Facilmente nos identificamos com certas passagens, porque já vimos acontecer aos nossos olhos ou simplesmente já aconteceu connosco. É, sem dúvida, um livro que consegue misturar brilhantemente o vício do amor (romance) e o vício do dinheiro (jogo). Mas dizer só isto não traz nada de novo aos livros, seria dizer que a escrita de Dostoiévski nada tem de especial, muito pelo contrário, é ela que torna uma história um pouco banal em absorvente. O ponto especial da sua escrita está na perspicácia como é gerida a informação. Dostoiévski luta em cada linha e em cada parágrafo para não nos contar tudo, apenas conta o suficiente para que não paremos de ler o que torna a leitura num vício e a o ritmo do vício do jogo que a história desenrola. É um livro macio mas viciante. Um bom companheiro numa tarde de fim-de-semana em que na televisão nada de jeito dá e nos vemos sozinhos…

Virão outros de Dostoiévski, mas até lá segue-se Kafka.



"Neste momento senti que eu era um jogador. Senti isso como nunca até então. Minhas mãos tremiam, as pernas vergavam-se. As têmporas pulsavam agitadamente…"

"Desejo penetrar-lhe na alma e arrancar-lhe os segredos; desejo que venha a mim e me diga: ‘Eu o amo!’"