sexta-feira, 2 de abril de 2010

Para a Minha Irmã


Sinopse:

Sara e Brian Fitzgerald são pais de duas crianças e formam uma família feliz. No entanto, a vida deles muda para sempre quando descobrem que a sua filha de dois anos, Kate, tem leucemia. A sua única esperança é conceberem outra criança, especificamente destinada a salvar a vida da irmã. O resultado é Anna. Kate e Anna partilham laços muito mais próximos do que a maioria das irmãs: embora Kate seja mais velha, ela depende da sua irmã. Na verdade, a vida dela depende de Anna. No entanto, Anna, agora com 11 anos, diz "não". De forma a obter emancipação médica, ela contrata o seu próprio advogado, iniciando um processo judicial que divide a família e que poderá deixar o futuro de Kate nas mãos do destino...

Opinião:

Este é um filme dramático e intenso. É o filme perfeito para as pessoas que gostam de ficar "pregadas" ao ecrã com curiosidade em torno de questões sociais e culturais. Temos aqui uma história original, onde uma menina concebida para ajudar a irmã chega a um ponto da sua vida em que decide que já chega e que não quer que o seu corpo seja mais uma "garagem onde existem as peças capazes de arranjar o motor". De uma forma muito breve, este filme aborda 3 questões essenciais:

Em primeiro lugar, a questão da concepção. No filme, ainda no seu início, é dito: "A larga maioria das pessoas que têm filhos, têm-nos porque foi o resultado de uma noite de bebedeira ou porque não se protegeram. Não têm filhos porque os desejam ou porque ansiavam. As verdadeiras pessoas que desejam ter um filho, lutam por isso e sonham com isso são aquelas pessoas que não podem ter filhos ou não conseguem". Bom, não há muito mais a acrescentar, porque se uma verdadeira sondagem fosse feita o resultado seria exactamente esse. Hoje, a maioria das pessoas tem filhos porque aconteceu e não porque desejou, porque quem deseja é quem não consegue.

Em segundo lugar, a questão da autonomia do corpo. Deve uma criança que foi concebida apenas para ajudar a irmã ser sujeita a todo o tipo de tratamentos (desde transfusões de sangue até a doação de um rim, a partir dos poucos meses de vida) que lhe afectarão o bem-estar presente e futuro porque a verdadeira filha é a irmã? Até onde vai a nossa autonomia sobre o nosso corpo? Ou melhor, quando deve começar o nosso poder de decisão? Deve uma criança de 5 anos sujeitar-se a tratamentos violentos e traumáticos que lhe reduzem qualidade de vida para ajudar a irmã por imposição dos pais? Deve aos 11 anos doar um rim à irmã não podendo fazer mil e uma coisas no futuro? É, óbvio, que irmãos são irmãos e fazemos tudo para os pôr melhor, mas estou a querer ir mais longe: deve ceder uma vida em prol de outra? Isto dava para textos e mais textos, mas aqui fica a ideia e suscitado o problema.

Em terceiro lugar, a questão da chegada a hora para a partida. Vários filmes representaram a ideia e a discussão de quando estaria chegada a hora de deixar alguém partir e se poderíamos ajudar ou não alguém nessa tarefa. Este também não deixa de tratar dessa discussão. Seríamos capazes de ajudar alguém que amamos a partir porque ela não suporta mais a dor? Fica a promessa de que um dia mais tarde essa será uma questão que darei a minha resposta...

Por fim, resta dizer que este filme tem como pontos fortes: a conotação emotiva e dramática, a qualidade dos actores (Cameron Diaz merecia um Óscar de melhor actriz secundária com esta performance) e a forma como toda a história é narrada na primeira pessoa, algo que se vê cada vez menos mas que me agrada porque assemelha-se ao ler um livro. Vale a pena, está recheado de questões psicológicas que nos atormentam a todos, mas que nem sempre estamos com vontade de pensar.

Nota: 7/10 - Bom

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