domingo, 9 de maio de 2010

Momentos assim...


Pergunto a mim próprio em que noite nos perdemos?,
Que desencontro nos levou de um a outro lado das
Nossas vidas? E que caminhos evitámos para que os nossos
Passos se não voltassem a cruzar? Mas as perguntas que
Te faço, hoje, já não têm resposta. Sento-me contigo,
Nesta mesa da memória, e partilho o prato da solidão. Tu,
Na cadeira vazia onde te imagino, sacodes o cabelo com
Um aceno de ironia. E dou-te razão: as coisas podiam
Ter sido de outro modo. Não te disse as palavras que
Esperaste; e havia o mar, com as suas ondas, nessa tarde
Em que me puxaste para longe da cidade, como se
A noite não nos obrigasse a voltar, quando o horizonte
Se apagou à nossa frente. Depois disso, nenhuma
Pergunta tem resposta. O que é absurdo há-de continuar
Absurdo, como o horizonte não se voltou a abrir,
Trazendo de volta os teus olhos que me pediam que
Os olhasse, até que a noite me impedisse de o fazer.


Nuno Júdice, Em Frente ao Mar

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